sábado, 28 de abril de 2012

O que é a Realidade???

     Olá pessoal! Bom, esse post vai ser meio diferente. A pouco terminei de ler um livro fantástico, O Grande Projeto - de Stephen Hawking e Leonard Mlodnow, e iria escrever sobre ele aqui. Também iria escrever sobre um tema interessantíssimo de um dos capítulos. Enfim, resolvi então fazer esses dois post em um só, vou falar sobre o livro apresentando o terceiro capítulo: Oque é a Realidade?
     Bom, antes um resuminho geral para entender do que se trata o livro. Já na orelha do livro, o autor começa com uma série de perguntas: Quando e como surgiu o Universo? Por que estamos aqui? Por que existe algo em vez de nada? (genial essa pergunta né?). E para tentar responder essas perguntas, os autores fazem uma incrível viagem sobre o mistério do ser, domínio da lei, histórias alternativas e muito mais. Mas o que mais quero falar irei transcrever abaixo, está no capítulo 3.


O que a Realidade?

    Alguns anos atrás, a câmara municipal de Monza, na Itália, proibiu os donos de animais de estimação de manter peixinhos dourados em globos de vidros. O proponente da medida justificou-a em parte argumentando que seria cruel manter um peixe dentro de um aquário com paredes curvas, porque, ao olhar para fora, o animal teria uma visão distorcida da realidade. Mas como sabemos que que nós temos a imagem verdadeira da realidade, sem distorções? Não poderíamos viver em um vasto globo de vidro e ter uma visão inteiramente deformada por uma imensa lente? A visão de mundo do peixinho dourado é diferente da nossa, mas como teremos certeza de que ela é menos real?
     A visão do peixinho dourado não é a mesma que a nossa, mas ele poderia formular leis cientificas que governassem o movimento dos objetos que observa fora do seu aquário. Por exemplo, devido à distorção, um objeto movendo-se livremente, que vemos deslocar-se em linha reta, seria observado pelo peixe descrevendo uma trajetória curva. Apesar disso, o peixe poderia formular, a partir do seu referencial distorcido, leis científicas que sempre seriam válidas e que lhe permitiram fazer previsões sobre movimento futuro de objetos fora do aquário. Suas leis seriam mais complicadas do que aquelas em nosso referencial, mas simplicidade é uma questão subjetiva. Se um peixinho dourado formulasse tal teoria, seríamos obrigados a admitir que a visão de mundo de um peixinho dourado é uma imagem válida da realidade.
     Um exemplo famoso de diferentes quadros da realidade é o modelo introduzido por Ptolomeu por volta de 150 d.C. para descrever o movimento dos corpos celestes. Ptolomeu publicou seu trabalho em um tratado de treze livros comumente por seu título em árabe, Almagesto. O Almagesto começa explicando as razões para se acreditar que a Terra é esférica, imóvel, posicionada no centro do universo, e de tamanho desprezível quando comparada às distâncias do céus. Apesar do modelo heliocêntrico de Aristarco, tais crenças eram sustentadas pela maioria dos gregos cultos ao menos desde a época de Aristóteles, que propunha razões místicas para que a Terra ocupasse o centro do universo. No modelo de Ptolomeu, a Terra permanecia no centro e os planetas e estrelas moviam-se ao seu redor em órbitas complicadas envolvendo epiciclos, como rodas dentro de rodas.
     Esse modelo parece natural porque não sentimos a terra se mover debaixo de nossos pés (exceto durante terremotos ou momentos de paixão). A erudição européia posterior baseava-se nas fontes gregas transmitidas, e assim as idéias de Aristóteles e Ptolomeu tornaram-se a base de boa parte do pensamento ocidental. O modelo ptolomaico do cosmos foi adotado pela Igreja Católica, que fez dele sua doutrina oficial por quase 1400 anos. Foi somente em 1543 que um modelo alternativo foi apresentado por Copérnico em seu livro De Revolutionibus Orbium Coelestium (Da Revolução das Esferas Celestes), publicado somente no ano de sua morte (embora ele tenha trabalhado nesta teoria por várias décadas).
     Copérnico, do mesmo modo que Aristarco dezessete séculos antes, descrevia um mundo no qual o Sol encontrava-se em repouso no centro e os planetas revolviam ao seu redor em órbitas circulares. Embora a idéia não fosse nova, seu resgate enfrentou uma resistência exaltada. Afirmou-se que o modelo copernicano contradizia a Bíblia, interpretada como se afirmasse que os planetas moviam-se ao redor da Terra, muito embora jamais faça essa asserção explicitamente. De fato, na época em que ela foi escrita, acreditava-se que a Terra era Plana. O modelo copernicano resultou em um furioso debate em torno da hipótese da Terra encontrar-se em repouso, culminando, em 1633, no julgamento por heresia de Galileu, por advogar a favor desse modelo e por acreditar "que se pode sustentar e defender como provável uma opinião que foi declarada e definida como contrária às Sagradas Escrituras". Ele foi considerado culpado, confinado em prisão domiciliar pelo resto de sua vida, e forçado a se retratar. Conta-se que ele murmurou entre os dentes: "Eppur si muove" (Mas ela se move). Em 1992, a Igreja Católica Romana finalmente reconheceu seu erro ao ter condenado Galileu.
     Então, qual deles é real, o sistema ptolomaico ou o copernicano? Embora muitas vezes se diga que Copérnico provou que Ptolomeu estava errado, isso não é verdade. Como no caso dos dois pontos de vista, o nosso e do peixinho dourado, ambos os cenários podem ser usados como um modelo do universo, pois nossas observações podem ser explicadas tanto  supondo que a Terra esteja em repouso quanto o Sol. Apesar do seu papel em debates filosóficos sobre a natureza do universo, a vantagem real do sistema copernicano é que as equações de movimento são muito mais simples com um referencial no qual o Sol esteja em repouso.
     Um tipo distinto de realidade alternativa aparece no filme de ficção científica Matrix, no qual os humanos vivem sem saber dentro de uma realidade virtual simulada criada por computadores inteligentes, que os mantêm calmos e contentes enquando sugam sua energia bioelétrica (seja lá oque isso signifique). Talvez esse quadro não seja tão absurdo, porque tem muita gente que prefere passar o tempo na realidade simulada de jogos como Second Life. Como saber se não passamos de personagens de uma novela criada por um computador? Se vivêssemos em um mundo imaginário sintético, os eventos não teriam necessariamente uma lógica ou consistência, ou obedeceriam a quaisquer leis. Os alienígenas no controle poderiam achar mais interessante ou divertido ver nossas reações, por exemplo, se a lua cheia fosse partida ao meio, ou se todo mundo desenvolver um desejo incontrolável por torta de banana. Mas, se os alienígenas impusessem leis consistentes, não teríamos como saber se há outra realidade por de trás da simulada. Seria fácil chamar o mundo no qual vivem os alienígenas de "real" e o mundo sintética de "falso". Mas se- como nós - os seres no mundo simulado não pudessem observar seu universo pelo lado de fora, não haveria razão para duvidarem de seu próprio quadro da realidade. Essa é uma versAo moderna da idéia de que somos fragmentos do sonho de outro alguém.


    Bom doidinhos, não vou transcrever o capítulo todo aqui pois ficaria muito extenso para um post, mas já deu pra ter uma bela idéia do livro. Sinceramente, achei o livro mais fácil de compreender que os livros anteriores do Hawking (Breve História do Tempo e Universo numa Casca de Nós), a leitura é bem leve e o livro menor que os outros. Quem se interessou recomendo que leie todo o livro.

     Até breve

Um comentário:

  1. Até parece mentira essa história do aquário, mas saiu no Washington Post: http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/articles/A44117-2004Aug5.html

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