sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Simulacro e Simulações

Em 1981 o ilustre sociólogo francês Jean Baudrillard escreve um de seus livros mais inovadores Simulacros e Simulação. Simulacro, do latim para similaridade. Baudrillard afirma que em nossa sociedade atual, nós substituímos toda nossa realidade por símbolos e imagens. Toda a experiência humana hoje é uma simulação do real. Nós estamos tão aficionados pelos simulacros que a realidade se tornou só um vestígio, é algo tão irreal quanto a simulação. A realidade deixou de existir, e passamos a viver uma representação da realidade, na sociedade pós-moderna, difundida pela mídia. A imprensa, televisão, filmes, internet, o valor do dinheiro, urbanização e o processo industrial nos afasta da condição natural do mundo. Nós estamos simulando coisas que não existem. Irônico, mas com fundamentos, Baudrillard defende que que vivemos em uma era em que os símbolos tem mais força e peso que a própria realidade. Desse fenômenos nascem os simulacros, simulações malfeitas do real, que são mas atraentes que próprio objeto reproduzido.

O escritor argentino Jorge Luís Borges mostra brilhantemente este fenômeno em um poema chamado Do Rigor na Ciência:
"Naquele Império, a arte da cartografia logrou tal perfeição que o mapa de uma única província ocupava toda uma cidade, e o mapa do Império toda uma província. Com o tempo, esses mapas desmedidos não satisfizeram e os colégios de cartógrafos levantaram o mapa do império, que tinha o tamanho do império e coincidia pontualmente com ele. Menos adictas ao estudo da cartografia, as gerações seguintes entenderam que esse dilatado mapa era inútil e não sem piedade o entregaram à inclemência do sol e do inverno. Nos desertos do oeste perduram despedaçadas ruínas do mapa habitadas por animais e por mendigos. Em todo país não há outra relíquia das disciplinas cartográficas."
Ou seja, o Império fez um mapa 1:1 do Império (na verdade tomo mundo morreu soterrado no mapa gigante) e o Império passou a ser o próprio mapa . Ele queria um mapa tão perfeito, que a única forma da simulação ser perfeita era tornar realidade a simulação. Ou seja, o Império transformou a realidade deles em uma simulação. Quando o povo perdeu o interesse pela simulação, eles largaram de mão, só que a simulação tinha se tornado a realidade deles, e o Império foi pra ruína. Hoje em dia a simulação tornou-se tão importante em nosso mundo que as pessoas estão esquecendo da realidade, da base dessas simulações. Atualmente nós estamos tão viciados em nossas simulações que criamos do mundo real. O valor do dinheiro do país, que antigamente era por ouro, hoje é por credito, a crise que vivemos hoje é fruto dessas simulações, a soma das linha de créditos mundiais é maior que o PIB Mundial. É tudo uma ilusão, uma bolha gigantesca. Nós estamos nos enfiando na Caverna de Platão, adorando ver as sombras na parede.

Em seu livro, Jean Baudrillard argumenta que as sociedades ocidentais passaram por uma precessão de simulacros, onde temos o original e as três ordens de simulacros: a imitação, a produção (cópia mecânica) e, por fim, a etapa final, a simulação, onde interagimos com os símbolos/representações/imagens/ícones, achando que é o original.

Simulacros e Simulações influenciou grandes pensadores, e inspirou vários filmes, como Truman Show, Cidades dos Sonhos e Matrix. Na opinião do autor, Matrix fez uma interpretação ingênua do seu livro, por isso não gostou do filme. Em suas entrevistas sobre o filme, Keanu Reeves afirma ter lido o livro. Os diretores do filme, os irmão Wachowskis, convidaram Baudrilliard para participar como consultor filosófico das duas sequências, mas ele recusou o convite afirmando: "Como poderia? Não tenho nada a ver com Kong Fu. Meu trabalho é discutir idéias em ambientes apropriados para isso. Se leram o livro, não entenderam nada." Diferentemente do filme Matrix, em seu livro a diferença entre o real e o irreal é muito mais sutil. Não deixa o mundo real de um lado e o virtual do outro. Já nos filmes Truman Show e cidade dos Sonhos, os realizadores perceberam que a diferença entre uma coisa e outra é menos evidente.

Jean Baudrillard, pensador francês falecido em 2007, afirmava categoricamente que a chamada Guerra do Golfo (1991) não existiu. Para ele, o que a TV americana mostrou, em especial a CNN e Peter Arnett, foi um grande vídeo-game. À luz dos fatos, a investida militar dos americanos no Iraque durou menos de um mês. Ela se resumiu a um intenso bombardeio aéreo sobre a cidade de Bagdá, o qual o Pentágono chamou de "Operação Tempestade no Deserto", um bombardeio "cirúrgico" que preservou a patrimônio histórico/cultural da cidade. Depois de alguns dias, a infantaria se encarregou de fazer o resto da "limpeza". Ao todo, apenas 36 soldados americanos morreram no "conflito". Para Baudrillard, a Guerra do Golfo não aconteceu e nunca existiu, pelo menos nos moldes convencionais. Foi uma criação da mídia.

A Disneylândia é um modelo perfeito de todos os tipos de simulacros confundidos. É um dos exemplos que o autor analisa em seu livro. Mas aqui quero falar de alguns movimentos sociais. Irei usar aqui dois exemplos o movimento Punk, e mais recente os Emos. O movimento Punk surgiu em Londres, por pessoas que se vestiam como queriam. Não queriam criar moda, apenas serem eles mesmo. Não havia um esteriótipo punk. Mas após o surgimento de algumas bandas, e alguns ídolos como Sid Vícius e as pessoas pensaram: Ei, esse é meu ideal! E a partir daí o movimento Punk (símbolo) nasceu, quando o Punk (original) morreu, ou desapareceu. A pessoas preferiram os símbolo ao original, e o perpetuaram através de ritos (gírias, moda, relações sociais...) como qualquer outra cultura de massa. E os Emos, por se considerarem mais sensíveis e por isso incompreendidos, se isolaram, à margem da sociedade. Então surgiram as bandas de músicas Emos. Dezenas se encontram shoppings e parques. Pessoas que pensam iguais, mesmas roupas, mesmo cabelo com chapinha e se entendem. Então por que diabos continuam alimentando a idéia de serem sozinhos e tristes???

Oque dizer então da religiões? O mesmo tipo de controle foi e está sendo aplicado à Religiões. O Islamismo está sendo caricaturizado através de ícone, e pela falta de um grande líder espiritual, a grande nação Islâmica faz um um silêncio vergonhoso perante a mídia. Bom, e quanto à Jesus, que há muito perdemos o Jesus original e ganhamos um símbolo dele na cruz. Tivemos algumas belas imitações (1° Fase), acabamos por consumir a reprodução em massa desse símbolo (2° Fase), e agora já tomamos este pelo original. Um belo Case de Sucesso.

"Livre do real, você pode fazer algo mais real que o real: o hiper-real”
 (Jean Baudrillard).

Um comentário:

  1. Excelente postagem!!!
    "Livre do real, você pode fazer algo mais real que o real: o hiper-real”
    (Jean Baudrillard).

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