Blog pessoal de Bruno Martinez Ribeiro para escrever a compartilhar assuntos de meu interesse. Ciência, livros, filmes, cultura popular e agora Ciência de Dados.
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
O Fantástico Legado das Teorias
Essa história está no livro "Deus é Matemático?", de Mário Lívio, e vai de encontro com um assunto que já estava sendo elaborado em outros post, a utilidade prática de certas pesquisas. Esse segundo tópico gerou bastante polêmica recentemente, com a notícia do Bóson de Higgs e o Acelerador de Partículas LHC, muitos perguntaram: "Porque gastaram bilhões de Euros para construir uma gigantesca máquina para descobrir uma minúscula partícula que sabe-se lá para que servirá? Porque não usam esse dinheiro para acabar com a fome, pesquisas sobre o doenças, etc...?".
"A cafeteria estava lotada, com uma garoa fina e constante na Cambridge de 1684. Era uma boa cafeteria onde no final da tarde os amigos se encontravam para discutir política, governo, dinheiro e ciência. Em Cambridge ciência era uma das preocupações e discussões de cafeteria no século XVII. Fazia tempo que Edmund Halley não conversava com seu amigo Isaac Newton e tinha marcado com ele tomar um bom café e um chá para uma conversa descontraída. Halley era astrônomo prático, do dia-a-dia de observações em telescópio, preocupado em apontar e achar planetas e cometas. Newton já era conhecido pelo seu potencial matemático e considerado um teórico. Diferente dos tempos atuais, um teórico era bastante respeitado e levado a sério.
Depois de falarem sobre os assuntos corriqueiros, de colocar as pautas de amigos em dia, Halley e o arquiteto Christopher Wren (1632-1723) que estava junto na cafeteria, comentaram que tinham deduzido a lei de Kepler sobre o inverso do quadrado da gravidade, mas ambos estavam desapontados pois, além de incompleta estava imprecisa. Planetas não eram perfeitamente encontrados nas posições calculadas. Eles estavam bastante envolvidos nesses cálculos praticamente todos os dias durante alguns anos, cada hora do dia dividida entre cálculos e telescópios.
Para provocar Newton, Halley se gabou que o cálculo era muito difícil e então perguntou com uma segurança enorme ao amigo:" Meu caro Newton, será que você tem idéia de qual a forma da órbita de um planeta ou cometa?", já olhando para o colega Wren com ar de desdém. Ambos quase caíram da cadeira quando Newton respondeu: "Claro, é elíptica eu já demonstrei anos atrás em meus rascunhos! ".
Era de se esperar (hoje em dia para nós) que isso seria possível pois, focados apenas em números e cálculos e menos em raciocínio tranquilo e constante, Halley e Wren se desviaram diversas vezes da rota e da percepção de seus próprios dados. Ficar o tempo todo focado em dados não leva a nada. Se você não usa o tempo para fazer aquilo que as pessoas dizem ser "perda de tempo" seus resultados são muito pobres. A ciência conhecida como básica é desprezada nos dias de hoje pois, os teóricos são tachados como pessoas que vivem no "mundo da lua". Essas pessoas são muito, mas muito mais importante do que as que estão apenas em posse dos dados.
Por exemplo, poucos conhecem Tycho Brahe (1546-1601), um astrônomo amador, rico, que tinha um arsenal de dados de observação escondidos e nada tinha de conhecimento sobre a verdadeira rota dos planetas. Era um astrônomo de dados, um astrônomo de aquisição de dados, o dono do "home broker" antigo, mas não conhecia o funcionamento daquilo que tinha em mãos. Quem ficou mais conhecido e herdou a riqueza e conhecimento que estava nas mãos de Brahe foi Kepler, que herdou todos os dados após sua morte. Foi Kepler quem criou as leis do movimento orbital e colocou ordem no mundo astronômico que andava bagunçado por dados contraditórios. Foi Kepler quem mostrou o caminho correto para o entendimento da natureza do universo espacial.
Isto é para mostrar que ficar postado na frente de uma tela ou pagar tufos de dinheiro para adquirir uma plataforma, não lhe garante sabedoria suficiente para desprezar os conhecimentos teóricos. Não significa que você não consiga adquirir conhecimentos teóricos, mas se assim desejar, terá que dispensar seu tempo da frente das telas on-line e de tabelas de dados o tempo todo.
Quando Newton voltou para sua casa não encontrou o tal rascunho. Resultado: trabalhou como nunca para provar que as órbitas dos planetas eram elípitcas e de uma forma diferente da que tinha feito antes. Não gostou e conseguiu deduzir a primeira forma novamente. Como consequência, surgiu o livro que é considerado o fundador do Cálculo Diferencial e Integral de nome "Principia". Quanto a Halley ficou muito satisfeito pois, ajudou o amigo Newton e ainda a si próprio uma vez que descobriu a órbita correta do cometa que leva seu nome: cometa Halley.
Ainda assim existirão aqueles que vão dizer: "coitado, trabalhou tanto e ganhou o que com isso?" Newton não ganhou só fama, mas ele foi só o presidente da casa da moeda da Inglaterra, cunhando o novo formato para a Libra. E para quem pensa em dinheiro como tudo, sim Newton ganhou dinheiro e um título de nobreza reconhecido como Sir Isaac Newton."
Realmente a primeira vista, a descoberta do Bóson de Higgs não parece ter muita utilidade, mas o que sabemos o que essas descobertas e experimentos geraram de fruto no futuro? Assim como Cristóvão Colombo, não tinha nem ideia da gigantesca descoberta que lhe esperava do outro lado do oceano, quando se atirou com as 3 caravelas ao mar, e assim como Colombos, nossos grandes cientistas mal sabem o que lhe espera a cada pesquisa e descobertas. Há uma história famosa a respeito de Michael Faraday (já tenho um posto no forno para este gênio). Como sua fama se espalhara amplamente, ele era visitado com frequência por curiosos. Certa vez, perguntado para que servia seu trabalho, ele respondeu: "Para que serve uma criança? Ela cresce e vira um homem." Um dia, William Gladstone, então Ministro das Finanças, visitou Faraday em seu laboratório. Nada sabendo sobre ciência, Gladstone perguntou sarcasticamente a Faraday que utilidade as enormes geringonças elétricas que enchiam seu laboratório podiam ter para a Inglaterra. Faraday respondeu: "Sir, não sei para que fim essas máquinas serão usadas, mas tenho certeza da que um dia o senhor vai me fazer pagar impostos por elas." Atualmente, grande parte da riqueza mundial está investida no fruto dos esforços de Faraday.
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