quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Admirável Mundo Novo x 1984


    Bom doidinhos. Neste post quero falar de dois livro clássicos de ficção científica, leitura indispensável para qualquer amante de um bom livro. Iniciando por ordem cronológica, iniciarei falando de Admirável Mundo Novo (Brave New World), de Aldous Huxley, publicado em 1932, e depois falarei também do livro 1984 (Nineteen Eight Four), de George Orwell, publicado em 1948. Os dois livros falam de um futuro distópico, que tratam sobre domínio, liberdade, manipulação, e traçam paralelos muito interessantes com a realidade.
     No futuro hipotético de Admirável Mundo Novo, as pessoas são pré-condicionadas biologicamente e condicionadas psicologicamente a viverem em respeito e harmonia com as leis e regras sociais, em uma sociedade organizadas por castas. A história se passa em 751 d. F. (depois de Ford) e inicia contando a visita de um grupo de alunos ao Centro de Incubação e Condicionamento de Londres. Nela o diretor apresenta o processo de fecundação, onde cada novo ser é dividido em classes sociais, sendo os Alfas a casta mais alta, detentores do conhecimento, os Betas, detentores de habilidades específicas para realização das tarefas. E as castas inferiores são Gama, Delta e Ipsilons, que são mão de obra. Estes homens da casta inferiores eram gerados por um processo chamado Bokanovsky (noventa e seis gêmeos retirado de um óvulo só) e tratados pré-natalmente com álcool e outros químicos para controlar o desenvolvimento. Durante o crescimento do bebê, eram submetidos a processos hipnopédicos e condicionamento intelectual, anos ouvindo textos e máximas didáticas repetidas vezes no berços e outras técnicas. Isso garantia que todos respeitassem as leis impostas e vivessem em harmonia. Nessa sociedade, não existe sexo para procriação, somente para prazer, e também não existe o conceito de família. Os homens não tem esposas, nem filhos, nem amantes por quem possam sofrer emoções violentas. Qualquer dúvida e incerteza é controlada por uma droga, a "soma", livre, distribuída pelo governo e sem efeitos colaterais. Nessa sociedade as pessoas são felizes, sentem-se bem, vivem em harmonia. O segredo da felicidade é amar oque se é obrigado a fazer
     Nessa "fábrica de pessoas" trabalham Lenina Crowey e Bernard Marx. Lenina (o nome é uma referência a Vladimir Lenin) é uma beta, linda, condicionada a ser feliz e não amar, realizar suas tarefas na fábrica e servir todos os homens. Bernard Marx (referência a Karl Marx) é um Alfa-mais, insatisfeito com o mundo em que vive, estranho para a sociedade que tentar relutar contra ela para sentir as reais emoções. Ele tem idéias diferentes sobre os esportes e o consumo de soma, pela irregularidade da vida sexual, e recusa-se a obedecer os ensinamentos de Ford. Bernard resolve viajar, juntamente com Lenina, para uma "reserva", o último reduto da civilização antiga. Lá viviam setenta mil índio e mestiços, absolutamente selvagens, sem nenhuma comunicação com o mundo civilizado, conservando seus hábitos e rituais antigos e repugnantes. Durante essa viagem eles conhecem Linda, ex-mulher do Diretor da Incubadora que ficou perdida na reserva durante uma visita anos atrás, e seu filho John, que nunca conheceu o mundo civilizado, embora consiga receber uma educação sobre a língua e a cultura civilizada. Bernard vê a possibilidade de ganhar respeito e derrubar o Diretor da Incubadora levando os dois para apresentar de exemplos de selvagens para a civilização. Linda acaba sendo rejeitada pela sociedade em virtude de sua aparência horrorosa, e pelo fato de ter tido um filho, ato considerado obsceno e impensável e ter crença religiosa era ato de ignorância  John torna-se o centro das atenções e todos desejam vê-lo. O diretor fica desmoralizado e pede demissão da fábrica. Bom, não irei contar toda a estória para não tirar a graça de quem quiser ler.
     Em 1984, George Orwell criou um futuro dividido em três grandes potências: a Oceania (abrange Américas, Austrália, metade sul da África e Inglaterra), a Eurásia (Europa e Rússia) e a Lestásia (China, Japão, Coréia, parte da Índia e países do sudeste da Ásia). O norte da África e o oriente próximo são territórios em frequentes disputas pelas três potências. O livro conta a história de um funcionário do Ministério da Verdade (onde se fabricam verdade, algo como a mídia atual) da Oceania, Winston Smith (referência a Winston Churchill), que vive em uma sociedade totalitária governado pelo Grande Irmão (Big Brother em inglês, isso mesmo foi esse livro que inspirou o programa de TV). Na sala de seu apartamento tem uma Teletela (em todos cantos da cidade tem uma) que é um dispositivo que o governo pode ver e ouvir tudo oque acontece, e pode transmitir ordens. Smith não tem muitas lembranças se sua infância e nem dos anos anteriores à mudança política. Diariamente há um evento chamado Dois Minutos de Ódio, onde todos os cidadãos devem parar seu trabalho para atacar histericamente com gritos e xingamentos o traidor e foragido Emmanuel Goldstein, e depois adorar o Grande Irmão. O governo da Oceania é composto pelos Ministério da Verdade é responsável por alteração de documentos históricos, Ministério do Amor que espiona e controla as pessoas, Ministério da Paz lida com guerra e Ministério da Fartura é responsável pela fome.
     O controle da população se dá principalmente por medo e totalitarismo, espionando as pessoas pelas Teletelas espalhadas em toda cidade e qualquer pessoa que esboça alguma ponta de ideia contrária à ideologia do Partido é torturado pelo Ministério do Amor. Para controlar o pensamento das pessoas o Ministério da Verdade está desenvolvendo um novo idioma, chamado de Novilíngua. Ao contrário das línguas normais, que vão aumentando o número de termos novos e palavras, a Novilíngua tem vários termos retirados de seu dicionário, principalmente sinônimos e antônimos. Por exemplo a palavra mau não existe em Novilíngua. Se temos a palavra bom, o oposto seria imbom, sendo o prefixo im indicando que é o antônimo. O principal motivo para redução de palavras é que essa redução reflete nos pensamentos das pessoas, dificultando as idéias e facilitando o controle, quanto mais restrita a língua mais restrito é o pensamento das pessoas. As principais palavras novas da Novilínguas são Crimidéia, que é o crime ideológico, pensamentos ilegais, Duplipensar, que significa duplicidade de pensamentos, saber que está errado e se convencer que está certo, e Impessoa, uma pessoa que não existe mais e todos seus registros históricos devem ser apagados. No livro,  Orwell expõe a Teoria da Guerra, onde o objetivo não é vencer o inimigo nem lutar por uma causa, e sim manter o poder das classes altas, e limitando a acesso a cultura, educação, saúde e outros recursos básicos para a classe baixa, mantando uma Guerra constante. Algo muito parecido com o que ocorre hoje em dia nos EUA.  No enredo da estória, Winston Smith conhece Júlia, uma bela funcionária do Ministério da Verdade e acaba se apaixonando e se envolvendo com ela. Júlia tem idéias contra o partido, e acaba envolvendo Winston nessas atividades, e a partir daí ele é perseguido pelo partido e, enfim também não quero estragar a história se alguém ainda pretende ler o livro.
     Mas esses dois livros são clássicos da literatura de ficção científica (embora alguns considerem como ficção política) e muitas de suas previsões foram realizadas. Traçando um paralelo entre os dois livros: em 1984 os livros eram censurados e em Admirável os livros não despertava os interesses das pessoas, pois ninguém tinha motivos para ler. Em 1984 a informação era privada aos governantes e em Admirável a informação é tanta que as pessoas se tornaram passivas. Em 1984 a verdade é escondida da população e em Admirável a verdade é soterrada num mar de informações irrelevantes. Em 1984 as pessoas eram controladas pela dor e medo e em Admirável as pessoas eram controladas pelo prazer. Em 1984 o ódio nos destruiria e em Admirável o amor nos destruiria.
     Muitas semelhanças com a realidade né? Mas o mais interessante nos dois livros é que as pessoas são controladas e nem percebiam. Hoje somos controlados e nem percebemos. Em 1984 o partido sabia dos pensamentos da pessoas pelas Teletelas que escutavam as pessoas em todos lugares, hoje colocamos nossos pensamentos livremente em Twitters e Facebooks. Em Admirável a verdade era escondida embaixo de um monte de informações inúteis, hoje em dia temos a televisão e a internet proporcionando isso. Em 1984 as pessoas eram controladas por medo e hoje temos as notícias de guerras e crimes nos jornais. Em Admirável as pessoas eram controladas pelo prazer e hoje temos o carnaval, futebol, consumismo, bares e festas proporcionando esse prazer. Enfim, podemos fazer muito mais comparações, mas recomendo que leiam esses livro e tirem suas próprias conclusões.

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