sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Grandes Mulheres das Ciências: Hipátia, de Alexandria

     Bom, doidos. Não foram só os grandes homens que construiram a história da ciência. As mulheres também tiveram uma importante participação, e para abrir esse primeiro post sobre a vida das Grandes Mulheres das Ciências a primeira personagem real que me veio à cabeça foi Hipátia, de Alexandria. Conheci a história dela em um de meus primeiros livros sobre história da ciência. Havia apenas um pequeno parágrafo e a sensação que passava era de que só estava ali para preencher espaço e dizia apenas: "Hipátia de Alexandria, matemática e filósofa, foi diretora da Academia de Alexandria (Biblioteca de Alexandria) e morreu em 415." Apenas isso e nada mais. Mas foi o suficiente para despertar em mim a curiosidade. Afinal, quem fora essa mulher que não só fora matemática e filósofa numa época impensável para as mulheres exercerem tais funções, como chegou a ser diretora de uma das maiores escolas da antiguidade? Infelizmente não nos chegou muito sobre a vida dessa grande mulher, mas o que temos vale como lição para se carregar para sempre.
     Entre os gênios matemáticos da Antiguidade, Hipátia de Alexandria foi a primeira grande matemática mulher que se tem conhecimento. Nascida em Alexandria por volta do ano 370 D.C. (355 D.C. dependendo da fonte) foi filha de Teão de Alexandria, também um matemático distinto e autor de várias obras. Sabe-se que seu pai, um eminente professor no Museu de Alexandria e mais tarde se tornou diretor, foi simultaneamente seu tutor, seu professor e seu companheiro.  Para aqueles que não lembram, Alexandria é uma cidade do Egito e foi fundada por Alexandre da Macedônia, popularmente conhecido como Alexandre, O Grande. Alexandre foi o mais célebre conquistador do mundo antigo. Em sua juventude, teve como preceptor o filósofo Aristóteles. Tornou-se o rei aos vinte anos, na sequência do assassinato do seu pai. Na antiguidade Alexandria foi um grande pólo de cultura e livre expressão, mas, na época em que Hipátia nasceu, a cidade encontrava-se em uma disputa entre a Igreja Católica, que crescia em poder rapidamente, e as correntes filosóficas que punham em cheque as doutrinas da nova religião.
     Hipátia cresceu em um ambiente cercado de cultura sendo guiada por seu pai nos estudos da Matemática e Filosofia. Ele acreditava no ideal grego da “mente sã em um corpo sadio” (“mens sana in corpore sano”) estimulando a filha a exercitar tanto a mente como o corpo, contam as lendas que ele desejava torna-la “um ser perfeito”. A oratória e a retórica, com grande importância na aceitação e integração das pessoas na sociedade da época, também foram estudadas. No campo religioso, Hipátia recebeu informação sobre todos os sistemas de religião conhecidos, tendo seu pai assegurado que nenhuma religião ou crença lhe limitasse a busca e a construção do seu próprio conhecimento. Depois de estudar geometria e astronomia em Alexandria, foi para Atenas estudar. Sócrates Escolástico relata:
“Havia em Alexandria uma mulher chamada Hipátia, filha do filósofo Theon, que fez tantas realizações em literatura e ciência que ultrapassou todos os filósofos de seu tempo. Tendo progredido na escola de Platão e Plotino, ela explicava os princípios da filosofia a quem a ouvisse, e muitos vinham de longe para receber seus ensinamentos.”
     Ainda em Atenas tornou-se discípula de Plutarco e professava ensinamentos Neoplatônicos. Mais tarde regressou a Alexandria onde foi convidada para dar aulas no Museu, juntamente com aqueles que haviam sido seus professores. Por volta dos 30 anos, tornou-se diretora da Academia. Seus conhecimentos abrangiam a Filosofia, a Matemática, Astronomia, Religião, poesia e artes. Era versada em oratória e retórica. Escreveu diversos livros e tratados sobre álgebra e aritmética. Infelizmente suas obras foram perdidas durante o incêndio que destruiu a Biblioteca de Alexandria e outras quando o templo de Serápis foi saqueado. Do seu trabalho, pouco chegou até nós. Sabemos que desenvolveu estudos sobre a álgebra de Diofanto ("Sobre o Canon astronómico de Diofanto"), que escreveu um tratado sobre as secções cónicas de Apolónio ("Sobre as Cónicas de Apolónio") e alguns comentários sobre os matemáticos clássicos. E em colaboração com o seu pai, teria escrito um tratado sobre Euclides. Um notável filósofo, Synesius de Cirene (370 - 413), foi seu aluno e escrevia-lhe frequentemente pedindo-lhe conselhos sobre o seu trabalho. Através destas cartas ficou-se a saber que Hipátia inventou alguns instrumentos para a astronomia, como o astrolábio plano e o planisfério, e aparelhos usados na física como o hidrômetro e um hidroscópio. Um de seus alunos Hesíquio o hebreu, escreveu:
“Vestida com o manto dos filósofos, abrindo caminho no meio da cidade, explicava publicamente os escritos de Platão e de Aristóteles, ou de qualquer filósofo a todos os que a quisessem ouvi-la... Os magistrados costumavam consulta-la em primeiro lugar para administração dos assuntos da cidade”.
     Hipátia foi uma Grande Mulher que nasceu na época errada. Sua defesa fervorosa ao livre pensamento, seus ensinamentos Neoplatônicos, sua observação de que o universo era regido pela leis da matemática a caracterizaram como herege em um momento onde o Cristianismo triunfava sobre o Paganismo. Enquanto Orestes, um ex-aluno, fora prefeito da cidade, sua vida estivera protegida. Mas quando Cirilo tornou-se bispo de Alexandria, determinado a destruir todo o movimento pagão, sua morte foi anunciada.
     Em uma tarde de 415 D.C. quando regressava do Museu, Hipátia foi abordada por uma horda de cristãos furiosos que a arrancaram de sua carruagem, arrastaram-na para uma igreja e lá rasgaram-lhe as roupas deixando-a completamente nua e e posteriormente o seu corpo foi dilacerado com conchas de ostra, ou cacos de cerâmica, consoante as versões existentes. Os seus membros ensanguentados foram exibidos nas ruas. Por fim atiraram seus restos em uma fogueira.
     Morria com ela toda uma era de liberdade e florescimento filosófico e cultural em Alexandria e certamente para todos que viviam sobre a espada afiada da nova religião. Hipátia alimentou toda uma época com a luz do conhecimento e do saber. Calaram-lhe a voz e empurraram sua lembrança para as profundezas do esquecimento. Mas, dois milênios não foram suficientes para apagá-la da memória de todos os famintos pela verdade. Quando comecei a fazer este posto, descobri o filme Ágora, do diretor Alejandro Amenábar que conta ao mundo a vida de Hipátia de Alexandria.
Rachel Weisz, em Ágora
 "Reserve o seu direito a pensar, mesmo pensar errado é melhor do que não pensar."
Hipátia de Alexandria

     Bom finde a todos....

Um comentário:

  1. Esta filósofa é exemplo para todas as épocas e o alerta do que é a religião: uma desgraça que bestializa o homem! Destruiu todis os estudos dignos sobre o Espirito e sua trajetória de reencarnação a reencarnação!!

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